Uma oficina de escrita criativa funcionando sem parar desde 2006
Foi em 2006 que o saudoso artista e designer Vincenzo Scarpellini me convidou para dar um curso no recém estabelecido Istituto Europeo di Design em São Paulo. Como ambos gostamos de Italo Calvino, ele me sugeriu criar um curso baseado nas Seis Propostas Para o Próximo Milênio do autor de Cidades Invisíveis.
De cada proposta parti para uma leitura diferente das ficções breves. Desdobrei este curso inicial em dois módulos, acrescentando outros autores, outras propostas, e um olhar mais focado na autoficção, isto é, nas escritas de si, buriladas na primeira pessoa.
Módulo 1
A aula inaugural é a mais puxada pois, além da integração entre os alunos, condensa duas aulas expositivas. Trato da tese das duas histórias de cada narrativa, sob as leituras de Ricardo Piglia e Enrique Vila-Matas. Emendando com o conceito da Visibilidade em Calvino, extraio elementos para falar da concepção da cena, a unidade fundamental de toda narrativa (pois condensa personagem, espaço e tempo). Entre os diversos autores lidos estão Angélica Freitas, Ana Martins Marques e Ana Cristina Cesar.
No segundo encontro abordamos a Velocidade, tratando do relato direto, escrito sob a forma de carta – a primeira proposta que faremos na primeira pessoa. Como debatemos a questão do tempo, usamos textos de Kafka, Julio Cortázar, Dalton Trevisan e Paulo Leminski.
Na Exatidão, terceiro encontro, falamos da escrita de microcontos. Os três pilares da ficção – tempo, espaço e personagem – são observados através das linguagens muito diversas de gente como Lydia Davis, Natércia Campos, Max Aub, Alex Epstein e Manoel Carlos Karam.
Já na Multiplicidade, quarta aula, trabalharemos o conto escrito a partir de vários pontos de vista. Para falar deste aspecto, vamos nos inspirar em textos de Jorge Luis Borges, Jennifer Egan, Roberto Bolaño e Ryonosuke Akutagawa.
Módulo 2
Neste módulo vamos especificamente trabalhar a autoficção. A partir da Leveza, exploraremos a crônica. Este é o ponto de partida para as escritas em primeira pessoa. Vamos usar textos de Alexandra Lucas Coelho, Rubem Braga, Fabrício Corsaletti e José Falero.
O sexto encontro será focado como Diário como laboratório de escrita. Susan Sontag, Patti Smith, Julio Ramón Ribeyro, Piglia e Kafka são alguns autores que nos guiarão nesta etapa.
Finalmente chegamos à forma Ensaio, gênero que conversa com ficção, reportagem, perfil e poesia. Djaimilia Pereira de Almeida, Kalaf Epalanga, Felipe Charbel são alguns nomes lidos.
No oitavo e último encontro leremos os textos produzidos no sétimo encontro e textos que não puderam ser lidos a tempo nas aulas anteriores. É o espaço para tirar últimas dúvidas e considerações finais.
Vamos portanto praticar o conto, a crônica, o microconto, o relato breve, a ficção em rede, a autoficção, o diário e o ensaio em oito encontros semanais, das 19h30 às 22h30. Toda segunda: 22 e 29 de janeiro, 5, 19 e 26 de fevereiro, 4, 11 e 18 de março (sim, pularemos o Carnaval hehe). Os encontros são via Zoom. O investimento é de $599, em 1 ou 2 vezes, via pix.
A ideia é que deste curso iniciado em janeiro de 2023 saia uma nova turma do Submarino. Meus cursos se chamam Submarino pois são mergulhos no grande oceano das formas breves. São infinitos: a primeira turma começou em 2014 e nunca parou, mesmo com a tripulação tendo entradas e saídas frequentes. Nesses Submarinos, já criei mais de 200 propostas de textos, baseadas nas leituras e interpretações de mais de 200 autores e autoras de várias literaturas pelo mundo.
Bora lá? Me escreva: ronaldobressane@gmail.com.
Metodologia
Todos os conteúdos do curso, sejam os oferecidos pelo professor, sejam os criados pelos participantes, ficam armazenados em um site WordPress. É como um Google Drive, só que mais organizado e bonito. Embora o site esteja na internet, todos os textos só ficam acessíveis pelos alunos, então a privacidade está preservada.
As aulas têm duração média de 3 horas. O professor fica o tempo todo disponível em classe. Pede-se aos alunos que não usem celulares durante os encontros; é preferível levar papel e caneta para fazer anotações. Mas, se quiserem levar laptops ou tablets, tudo bem.
A primeira e a segunda aula, que são ministradas no primeiro encontro, são bem expositivas. Ao final da segunda aula, é dada uma proposta de escrita para ser trabalhada em casa. Não acredito em exercícios praticados em aula – só jornalistas, publicitários e redatores escrevem na hora, depois de muita prática. Escritor mesmo escreve em casa 😉
A partir do segundo encontro, a primeira metade da aula será destinada a ler os textos criados pelos participantes. Todos leem e todos comentam. É possível que não dê tempo para ler todos os textos na mesma aula, mas vamos revezando as leituras até o último encontro. Pela experiência, notei que é possível ler e comentar todos os textos até o fim do curso.
Com o tempo percebi que o curso é também – ou talvez principalmente – um curso sobre a atenção e a empatia. Afinal, todos necessariamente comentam os textos dos colegas, e isso é essencial para a dinâmica do curso, pois sugerem que todos fiquem atentos, já que cada um vai querer atenção para o seu texto na hora que for lido. Os textos são lidos pelos próprios alunos, a não ser que haja algum problema específico. A cada textos, são sorteados dentro da turma 3 comentaristas, de modo que ninguém sabe quando vai ser a hora de comentar – e, por isso, fica esperto.
Ah: é proibido usar a palavra “interessante” 😉
Na segunda metade da aula, o professor oferece uma nova rodada de autores comentados e lidos, e uma nova proposta de escrita, a ser praticada em casa… e assim por diante, até o sétimo encontro. O oitavo e último encontro fica focado em ler os textos da sétima proposta e os outros textos que não foram lidos, além de dissipar possíveis dúvidas.
Breve biografia
Ronaldo Bressane, 53, paulistano, é um escritor, jornalista, tradutor, editor e professor de literatura. Formou-se em comunicação pela FAAP e é mestre em letras pela Unifesp com a dissertação Visões da Loucura na Literatura; atualmente prossegue esta pesquisa no doutorado em Teoria Literária e Literatura Comparada na USP.
Como jornalista, é editor da Morel, revista de literatura e fotografia publicada pela Ipsis. Desde 2000 foi repórter e editor de inúmeras publicações da imprensa brasileira, como as revistas Trip, Alfa e Select, além de diversos outros veículos, bem como crítico literário, colaborando nos jornais O Estado de S.Paulo, Folha de S.Paulo, Pernambuco e Cândido.
Como autor, publicou livros em diversos gêneros: os romances Escalpo (Reformatório, 2017) e Mnemomáquina (Demônio Negro, 2014); as graphic novels V.I.S.H.N.U. (Quadrinhos na Cia) e Sandiliche (Cosac Naify); os livros de contos Céu de Lúcifer (Azougue, 2003) e Essa História Está Diferente (como organizador, para a Companhia das Letras); e os livros de poesia O Impostor (Ciência do Acidente, 2002) e Metafísica Prática (Oito e Meio, 2017). Traduziu, entre outros, os romances 1984, de George Orwell (Tordesilhas), Blade Runner, de Philip K. Dick (Aleph), e O Corpo Em Que Nasci, de Guadalupe Nettel (Rocco).
Em 2014 lecionou Jornalismo Literário no curso de pós-graduação latu sensu Formação de Escritores, no Instituto Vera Cruz. Desde 2011 ministra cursos, oficinas e laboratórios de ficção e não-ficção em variadas unidades na rede nacional do Sesc, além de espaços como Casa do Saber, MAM/SP, Universidade do Livro, Casa das Rosas, Istituto Europeo di Design, Centro Cultural B_arco, Escrevedeira, Tapera Taperá e outros. Os temas discorrem sobre ficções breves, jornalismo literário e ensaio. Os cursos e as oficinas variam de 3 a 60 horas.
Desde 2006 comanda um curso contínuo de ficções breves que já teve o nome de Contos Para o Próximo Milênio e hoje é conhecido como Submarino, por sua navegação infinita nas ficções breves – há turmas que começaram em 2014 e estão na ativa até hoje. Dezenas de alunos estrearam seus livros e ganharam prêmios.
Site: ronaldobressane.com.
Ronaldo Bressane 