
Pra molhar esse agosto seco e sacal, mais um do mestre chileno, num livrim que a amigona Carola González trouxe de Barça:
Sangrento dia de chuva
Ah, sangrento dia de chuva,
que fazes na alma dos desamparados,
sangrento dia de vontade apenas entrevista:
detrás da cortina de juncos, no lodaçal,
com os dedos dos pés entorpecidos na dor
como um animal pequeno e trêmulo:
mas tu não és pequeno e seus tremores são de prazer,
dia revestido com as forças da vontade,
pasmado e fixo em um lodaçal que acaso não seja
deste mundo, descalço no meio do sonho que se move
desde nossos corações até nossas necessidades,
desde a ira até o desejo: cortina de juncos
que se abre e nos suja e nos abraça.
Roberto Bolaño, em Los perros románticos