“Sombra”
I
Aqui ainda vejo um lugar,
um lugar livre,
aqui na sombra.
II
Esta sombra
não está para vender.
III
Também o mar
atire talvez uma sombra,
também o tempo.
IV
As guerras das sombras
são jogos:
nenhuma sombra
está ante a outra na luz.
V
Quem mora na sombra
não morre fácil.
VI
Por um instante
saio de minha sombra,
por um instante.
VII
Quem quer ver a luz
como é
deve recuar
até a sombra.
VIII
Sombra
mais clara que este sol:
fresca sombra de liberdade.
IX
É na sombra
que desaparece a minha sombra.
X
Na sombra
há ainda lugar.
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Hans Magnus Enzensberger [trad. Priscila Figueiredo]