“Com a evolução dos livros e a sustentada prática dessa imprecisa ciência que, à falta de outro melhor, responde pelo nome de Literatura, compreendi, não sem algum esforço e bastante surpresa, que no fundo e na superfície de todas as histórias existem somente duas categorias de escritores, e, portanto, duas categorias de leitores.
Estão aqueles que ao fim de um conto suspiram Por que não me ocorreu isso antes? e os que preferem sorrir Mas que bom que isso ocorreu a alguém!.
Isto é tudo, somos todos leitores, de um modo ou de outro.
O Bem e o Mal – as chaves óbvias de nossa queda e os códigos secretos de nossa salvação – descansam em paz, se revolvem nos lençóis vermelhos da guerra e adoecem de boa saúde no centro mesmo dessa diferença irreconciliável que, cedo ou tarde, conduzirá ao fim de nossos dias no universo.
Algo os une: para os homens, para todos os escritores e leitores, a História – vão mecanismo de defesa sempre é o passado. Só à medida em que envelhecemos começamos a compreender, graças ao frágil e quase inútil consolo ao que se concorda com a perspectiva dos anos, que temos vivido a História quase sem nos darmos conta e que – primeira e última cortesia da morte? – não demoraremos em encontrarmos ligados a Ela por toda a eternidade.
Assim, nossa humilde e até então fluvial história desemboca, com um último suspiro, no incomensurável oceano onde vão dar todas as tramas. Assim, o fim dos tempos e o fim da História: e, de viver dentro de um volume de contos, de ser um de seus personagens, nada me incomodaria menos que encontrar este embrião de relato – uma breve introdução, na realidade, apenas a incerta luz de uma teoria, a sombra de um conto – nas primeiras páginas. O paradoxo do fim do mundo no princípio de um livro. Uma humilde armadilha que funcionasse não para desconcertar ao leitor, senão para jogar com a idéia de um novo início concebido durante o último ato do imenso e inalcançável universo impossível de colocar por escrito, aí afora.
Sim, o princípio de um livro também pode ser o fim do mundo.”
De “Apuntes para una teoría del lector“, uma das nove partes do romance La velocidad de las cosas, de Rodrigo Fresán. Acho que eu era do primeiro tipo de leitor/escritor. Agora que desencanei, pulei pra segunda categoria. Creiam, é bem mais confortável – e não é o fim do mundo.
se tu for tão bom de cama quanto de literatura, eu caso de olho fechado. um approach.
Haha! Cuidado que esse negócio de blind marriage pela internet sempre acaba no Procon… beijo!
RB
depende. você fica roxo por inteiro: cabeça, tronco e membros? honestamente, prefiro de baixo pra cima! outros beijos.