Hoje faz cinco anos que, usando dois aviões e duas torres, Osama bin Laden escreveu a rima que abre essa tragicomédia chamada século 21. Aquela grandiosa terça-feira, 11-9-2001, é dos poucos dias de que me lembro em pormenores: o despertar agridoce ao lado da minha então mulher [cujo aniversário fora no dia anterior], o trajeto leve até a Trip, o dia absolutamente azul, o expresso em pé no café em frente à editora, as flores amarelas retornando às árvores da rua Lisboa. Eram quase dez da manhã, ninguém na recepção, ninguém na copa, subo à redação e… que é isso, feriado e ninguém avisou? “Tá todo mundo na sala do seu Paulo, parece que caiu uma antena aí”, a dona da limpeza disse. Uma antena? Abro a porta da sala de Paulo Lima, única na firma onde havia uma TV… e, ali, o avião da United investe como uma cimitarra na Torre Sul do World Trade Center. Na hora não caiu a ficha, mesmo que a ficha tenha caído exatamente na mesma hora. Não podia ser aquilo, e era aquilo. Era absurdo, e era lindo. Era tão horrível quanto engraçado… algo como alguém com a máscara do Pânico entrar na sua casa e real e calmamente cortar você ao meio com uma serra elétrica. Assim, em meio à gritaria geral dos colegas, eu disparei a gargalhar como um maníaco. Acho que só parei quando a Torre Norte começou a desmoronar – e no que caía, um frio subia pela minha espinha; e meu riso secou. Lentamente eu vislumbrava o que aconteceria em seguida… a sensação mais próxima ao Apocalipse que jamais tive. Uma súbita consciência de que todos podemos desaparecer – o que não deixava de ser uma libertação… O dia transcorreu entre cinza e bege, telefonemas obsessivos e navegações a esmo pela internet, falta de apetite, cafés, TV ligada o tempo todo, vontade de abraçar os amigos, os amores, e a garganta apertada e anestesiada por fumaça, cachaça e lágrimas no início do dia 12. Os dias seguintes todos conhecemos, assim como as interpretações, análises, filmes, livros e prognósticos sobre os fatos… fato é que, a despeito de várias das previsões naquele dia, a despeito de a Al-Qaeda ter tornado pueril qualquer filme-catástrofe, ainda estamos aqui, com nosso riso incrustado numa província de gelo, assistindo ao segundo avião descair numa parábola certeira, e a nos perguntar: em que língua este poema está escrito – e o que quer dizer?
argh! que assunto mais chato.
Acho que quer dizer algo do tipo “Agora demos a eles todas as justificativas (ou desculpas) do mundo. Estamos fudidos.”
As torres naquele ano despencaram antes mesmo do 11 de setembro.
Tudo o que não era absoluto ruiu.
Já dizia um bom e velho tarô de Marselha.