
Estarão mesmo em extinção nossas matas mais sagradas? De carona na recente pelômica, digo, polêmica com a mata da musa Nanda Costa, ressuscito pensata-playground para a saudosa revista Ele&Ela sobre a história do trato das moças com seus cabelinhos.
Cada vez mais as garotas têm limado os pêlos que coroam suas perseguidas. O design baixo-capilar favorito por aqui, a virilha cavada, redesenhou as xoxotas yankees – lá, a febre é pela ‘brazilian wax’, a cera que assassina os cabelinhos de modo que as damas desfilem de biquíni sem causar espécie com fios indiscretos. Até mesmo a nova edição do dicionário Oxford traz, para sinônimo de brazilian, “estilo de depilação em que todos os pêlos pubianos da mulher são retirados, permanecendo apenas uma faixa central”. De fato o brazilian style de alinhar a pentelhama começou por conta da moda praia, mas virou obsessão comportamental. Tente lembrar a última vez que você ficou enfeitiçado por uma selva selvagem (a mãe não vale, muito menos a Playboy com a Nanda Costa, aquela antiga da Claudia Ohana ou o ensaio famoso da Vera Fischer).
O cabeludo assunto virou tema de cervejadas cafajestes: há tanto os entusiastas da máquina zero (“Hollywood cut”, segundo o mesmo Oxford) quanto os românticos defensores da flora nacional – como o escritor Xico Sá, que em seu “Contra o desmatamento das fêmeas” salivou: “Estão acabando com as nossas matas mais nobres. Em nome de diagramações ridículas, muitas vezes só um tufinho de nada de pêlo, espécie de buceta-Cebolinha… buceta-reco, um absurdo qualquer assim!”.
Uma penteada no Google nos revela curiosidades insuspeitadas sobre a cheirosa plumagem e informa: não é de hoje esse preconceito. Na arte do antigo Egito, os pêlos pubianos das moças eram indicados em forma de triângulos. Na arte clássica européia, muito raramente eles despontavam – o sumiço também se dava na arte indiana. Mesmo o ultrarealista Michelangelo jamais desenhava os pelinhos. Lá pelo século 18, no Japão, começaram a aparecer pentelheiras na arte shunga (erótica), o que se vê até hoje nos safados hentai: os pouco peludos nipônicos estão entre os povos mais interessados em cabelos íntimos. De resto, nas culturas do Oriente Médio (principalmente as islâmicas) e da Europa Oriental, as moças seguem há séculos o brazilian way of xavasca.

Mostrar a pentelheira era um tabu tão disseminado que os anais da história da arte sopram uma história bizarra. O crítico de arte inglês John Ruskin teria ficado chocado ao dar de cara com os pêlos de sua esposa Effie Gray – o refinado intelectual, acostumado a ver retratos de damas imberbes, imaginou que sua mulher fosse uma aberração, pois achava que só homens tinham pêlos pubianos. Ficaram casados cinco anos sem partir para os finalmentes, o que fez com que Effie pedisse a anulação do casório (com o novo marido, o pintor sem frescura John Millais, teve nada menos que oito filhos).
Considerada pornô em seu tempo, a pintura A Maja desnuda, do espanhol Francisco de Goya, foi a primeira obra de arte a escancarar a mulher em pentelhésimos detalhes. Mais ousado, Gustave Courbet enquadrou, em A origem do mundo, um maravilhoso exemplar da mata francesa. No cinema, os pêlos foram assunto para o longa A comédia de Deus, de João Monteiro, em que o personagem João de Deus guarda pentelhos deixados por ninfetas na banheira em que se lavam com leite (isso mesmo!) num grande livro chamado Caderno dos Pensamentos. Mais recentemente, a carioca Marcia Clayton causou furor ao usar pentelhos uma obra de arte (formavam os cabelos da noiva, numa escultura com aqueles bonequinhos de bolo de casamento). Marcia teria comprado a matéria-prima no Saara, famoso camelódromo do Rio, confirmando a tese de que ali se acha tudo.
Recentemente a talentosa artista plástica checa Alena Kupčíková (sem trocadilhos óbvios plis) expôs oito delicadas peças em que se retrata a genitália feminina e seus arredores: os sinuosos traços eram nada menos que dezenas de pêlos, doados por várias amigas – que preferiram se manter no anonimato. A idéia surgiu quando Alena presenteou o namorado com um desenho de sua prochaska formado por seus próprios pêlos. O cara, claro, ficou orgulhoso – tanto que escaneou a peça e mandou por e-mail aos amigos (curioso senso de comunhão tem o povo checo). Os amigos pediram “mais uma, mais uma” e Alena abriu uma bem-sucedidade exposição em Praga: os oito quadros estão expostos dentro de um túnel. Fica a dica para o curador da próxima Bienal.

Entrecu careca
Depois desse agradável passeio, tendo em vista que os pentelhos cada vez mais alcançam nobre espaço na arte, apesar do Photoshop, Ele&Ela afundou na lingerie e conferiu o assunto in loco – que falem elas, afinal. Conversamos com sete moças entre 20 e 30 anos, duas gaúchas, duas cariocas e três paulistas, que nos revelaram o que pensam sobre seus cortes íntimos. Como explicariam a moda zero total? Fetiche infantil, influência dos diretores de arte das revistas masculinas?
“Nem tô sabendo dessa moda, mas acho horrível, de mau gosto e sua causa Freud explica…”, desdenha a cantora carioca A*. Já a jornalista carioca R* é adepta: “Tem mais a ver com uma curiosidade por um toque diferente do que por algum fetiche infantil finalmente liberado porque acabaram-se todos os tabus no mundo”, afirma. “Lógico que existe uma tendência impulsionada pela revista, mas segui-la é coisa para fashion victims”, critica. A designer paulistana M* entende a arte como desculpa: “Talvez seja mais fácil pra tratar no Photoshop, ou os tratadores de imagem já têm uma xoxota pronta, aí é só aplicar, mudar a cor e tcharan!”. A publicitária gaúcha S* crê que a moda depil total esteja em alta porque pêlos nunca são bem vindos: “Tudo na vida sem pêlo fica melhor, por isso a mulherada se atirou geral na cera quente”. Já a jornalista paulistana F* diz que até tem mulher que fica bem totalmente lisa, como na infância. “Mas não gosto muito. Pêlos dão um ar ‘mulher’. Para algumas atividades é bom não ter barreiras nem atritos, só que essa moda contribui pra deixar os caras meio folgados, querendo só facilidade…”, ri.
Alguma moça já deixou de praticar o nobre esporte por conta de falta de trato na mata nativa? “Óbvio, inclusive a altura do pêlo da mulher está ligado à vontade de fazer sexo: se sei que vai rolar alguma coisa, já marco a depilação para estar em dia na hora H”, ensina a apresentadora gaúcha C*. “Se não quero transar já deixo grande, daí tenho uma desculpa pra mim mesma. Mas já fiquei na vontade com a penugem acima do nível ideal e transei igual.” Sua conterrânea S* ajunta: “Já fui pra naite macaca de propósito, pra não correr o risco de dar naquele dia!”. A jornalista F* explica: “Não deixei de fazer, mas já rolou crise. E uns truques pra ela não ficar em evidência. Nunca percebi algum cara perdendo o tesão por causa disso, mas fico encanada…”. A cantora A* vaia: “Nunca! Já fiquei Claudia Ohana várias vezes e isso nunca me impediu de nada. É frescura demais…” M* lembra: “É muito raro ela ficar numa situação assim, mas existe o ponto em que começa a crescer, pinica e aí é uma desgraça: você pratica o esporte e depois parece que andou a cavalo, fica toda assada!”.

Por fim: preferência por algum corte? “A íntima é uma que tá na moda, vejo nas revistas masculinas. Ela deixa os pêlos só na pista de pouso e tira os que cobrem os grandes lábios. Andava fazendo muito essa, parecia um meio-termo que agradava a mim e ao cara. Afinal, tenho que concordar que é gostoso passar os dedos nos grandes lábios lisinhos…” conta F*. Sua colega carioca R* radicaliza: “Meu argumento na depiladora é: tira tudo, não me serve de nada mesmo!”. A loura M* é a favor do zero: “Deixo o ‘hitler’, e sempre aparado. Lá embaixo não tem jeito, tem que ser lisinho, é mais gostoso (sim, fica mais sensível sem!) e mais limpinho”, confessa. Já a gaúcha S* é contra o ‘hitler’ e o depil full: “O meu corte favorito é pouco volume no topo, entrecu careca. Bigodinho de Hitler jamais, melhor depilar tudo. Mas depilação total achei horrível, completamente infantil e nada sexy – e quando começou a crescer espetava na boca do rapaz…”
Essa breve amostragem demonstra: embora o futuro talvez aponte mais para as estepes africanas do que para a floresta amazônica, entre as que só retiram o excesso e as que tiram tudo a média das garotas felizmente não está nem aí para o tamanho de suas matas.
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*A pedidos, as moças detalham seus milagres mas preferem não dar nome às santas

Ainda hoje vendo uma imagem lindíssima do projeto “Yellows” do Akira Gomi – várias mulheres nuas e nenhuma tendo removido os pêlos pubianos – e os comentários da gurizada de vinte e poucos anos pra menos…cara, eu me espanto de perceber que essa mentalidade Ruskiniana – de que pêlos são algum tipo de anomalia – seja tão recorrente…mas excelente (e corajoso!) post, Ronaldo.
Parabéns…
para mim não há nada mais belo e excitante, que uma M q deixa crescer livremente e ao sabor da mãe natureza seus pelos pubianos e outros q eventualmente tenha sido brindada.
Pelo contrário, as q fazem uso do ignóbil desmatamento, simplesmente me ” metem nojo “; pelo q sou INCAPAZ de lhes tocar!
Pelo que sei e tive oportunidade de confirmar, ao longo de minhas viagens pelo mundo, ao contrário do q se pretende fazer passar e para nossa felicidade, A MAIORÍA das M ” USAM SIM MATAS NATURAIS “, evitando assim sofrimentos inúteis e causando o desgosto das esteticistas.
” Viva a M NATURAL !”
sou 100% pró-pelos. Saco esse lance careca. 😛
Na verdade, Karen e Ana, embora seja um apreciador dos bosques da ficção, acho que o depil total tem lá seu charme, bem como a mata fechada forever no forévis: só acho que variar é o que liga – é entediante essa onda maria vai com as outras, non?
lembro-me que 15-10 anos atrás o depilação-total era coisa rara, mesmo algo que a garota só fazia pro namorado em momentos especiais e com algumas tinha que insistir, era uma surpresa especial que saia da rotina… agora a coisa se inverteu p\ o lado oposto, todas estão lisas-total, isso agora virou rotina, todas estão iguais, minha última namorada passaram-se meses e foi até terminar o namoro e eu nunca nem vi a cor do carpete, dizia que ‘não se sentia bem’… pelinhos fazem parte, é maravilhoso na hora que a mão vai descendo e vc sabe que \o/ chegou lá…
Adoro tudo ao natural. Seja no homem ou na mulher. E tão mais excitante. E já passei da idade de me depilar ou fazer qualquer outra coisa seguindo o gosto de outras pessoas, só considero o meu, e eu adoro a floresta amazonica….rs.
sou a favor dos pelos ,pois da’ uma sensaça’o gostosa passar a ma’o e senti,los;;;muito ridi’culo careca total…
Prefiro olhar para xavasca e ver que é de uma adulta. Como disse Hank Moody no Californication hehe. Sou total pró-pêlos!