São seis da tarde e um caminhão assoma na esquina. Um caminhão enorme, luzes fosforescentes, rebaixadão, rodas brilhantes, pintura negra, insulfilm nos vidros. Faz um barulho absurdo que silencia todo o bar. Vem chegando vagaroso, sinistro. Muito lento – como um imenso elefante orgulhoso. Carrega, ao que parece, muitos sacos de cimentos (à distância, parecem chicletes). Demora uns 10 segundos para dobrar a esquina e desfilar em frente ao bar. Todos o observam indignados com o som grave e incalculavelmente alto que nos pressiona o abdome enquanto ele passa. Quando ele nos dá as costas, soberbamente vagaroso, lemos as letras garrafais em seu pára-choque: ABENÇOADO.
