> Perfil e entrevista do matemático da IBM para a revista V # 35
7h18
Exatamente nesse horário, todo santo dia o matemático brasileiro Jean-Paul Jacob desperta para sua agradável rotina como professor da Universidade de Berkeley e pesquisador emérito da IBM: prever o futuro
Sim, exatamente 7h18. Afinal, números devem ser implacavelmente exatos na vida de um sujeito acostumado às variáveis do porvir. E lidar com paradoxos é o esporte favorito deste paulistano de 73 anos, que há quase 50 deixou o país para trabalhar na IBM. Formado em engenharia eletrônica pelo ITA de São José dos Campos, PhD em matemática e engenharia em Berkeley, hoje está aposentado como gerente de pesquisas no Centro IBM de Pesquisas em Almaden, Califórnia, mas continua no batente como pesquisador emérito e segue dando aulas na Universidade de Califórnia. O mesmo lugar onde, nos anos 60, durante os confrontos entre estudantes e policiais, foi preso – por jogar bridge na porta da universidade, impedindo a passagem.
“Era a primeira vez que eu ganhava no bridge, não podia parar de jogar“, conta ele à V, por telefone, em duas horas de entrevista. Hoje o cientista não se permite tais galhofas – devido a seus probleminhas com o diabetes, quase não sai de casa. “Todos os dias, invariavelmente, enquanto não for pro http://www.beleleu.com, estudo duas horas. Isso me dá mais acesso a informação do que pessoas que na mesma hora vão ao cinema ou ao restaurante. Leio 20 fontes de informação, publicações técnicas e de notícia, estou o tempo todo criando associações. Não tem nenhum louco que estuda como eu, acho!“, afirma. Jacob mora num subúrbio de Berkeley cujo nome prefere ocultar.
“Só digo que é um lugar que pratica o chamado autogoverno – não vou dizer o nome pra ninguém vir pra cá. Mesmo San Francisco não agüenta mais turistas! Só dou uma dica: meus vizinhos são supercriativos e trabalham na Pixar, têm 5 Oscars. Perto tem um instituto de criogenia, corpos congelados são meus vizinhos… E tem gente que deixa só a cabeça pra congelar, imaginou a confusão quando descongelarem?” A diabetes impede este infatigável conferencista e professor de escrever, por conta de uma neuropatia, e mesmo de ler – o faz numa tela plana gigante. Ficção, a última vez que leu tinha 17 anos, “Sherlock Holmes, acho. Me interesso é por ciência, sou um hipernerd. O meu hobby é o meu trabalho mesmo“.
E o trabalho é organizar o imprevisível – imaginar o que a IBM pode criar em cinco, dez ou cinqüenta anos, de acordo com as pesquisas que realiza junto a pessoas comuns. Uma de suas profecias, já velha em 30 anos, se chama convergência – a idéia, hoje banal, que coisas tão diferentes como um telefone, uma câmera, um computador e um tocador de música pudessem partilhar o mesmo ínfimo espaço. No momento, o que entusiasma Jacob é o chocolate, um de seus autodeclarados vícios (“só como aqueles com 75% de cacau, sem açúcar“, diz). No futuro, depois que o genoma do cacau for decifrado, poderá ser criada uma nova espécie imune a pragas. Outra predição de Jacob também tem a ver com gastronomia: a criação do nariz artificial.
“Quando você está doente, exala substâncias químicas que informam que você tem determinada enfermidade. O nariz eletrônico, assim, pode ajudar à medicina. Essa tecnologia também pode ser aplicada em outras coisas: você poderá baixar cheiros pela internet. Ou ligar a TV e no meio da cena de um filme sentir, junto com os atores, o cheiro da feijoada deliciosa que eles estão comendo. Já pensou?” Para se fazer mais perguntas do tipo “Já pensou?” e “E se…?”, siga o ótimo papo com Jacob.

Você trabalhou com computação analógica e recentemente disse que esta forma de tecnologia é muito semelhante à quântica e à biológica. Como andam as pesquisas em relação à computação biológica e quântica? Pra falar da computação analógica é fácil: basta pensar no cérebro, muito mais poderoso do que qualquer supercomputador. Só para dar um exemplo: você vê do outro lado da rua uma pessoa e diz “aquele senhor” ou “aquela senhora”. Isso é reconhecimento de padrões, coisa que o cérebro faz muito fácil. Computadores até fazem bem um reconhecimento de padrões, mas não satisfatoriamente, não podemos garantir que tudo está entendido, simplesmente porque o computador ainda não compreende algo que para nós é comum: o contexto.
E por que não usar o cérebro como modelo para novos computadores? Não é fácil. Ele é análogico, sinapses têm um poder computacional fenomenal. Gostaríamos de entender como funciona o cérebro para avançar nas pesquisas sobre saúde: afinal, ele comanda o corpo, faz criar anticorpos, etc., talvez se conseguirmos imitar o cérebro pudéssemos curar pessoas. Já começamos pelo Projeto Genoma, queremos entender como as proteínas mal dobradas são parte da receita de um DNA. Ainda não sabemos como se dobram, e uma proteína maldobrada traz doenças.
Já conseguimos listar as proteínas – é como você pegar uma fita de tecido composta de várias pequenas fitas coloridas todas juntas em 22 cores diferentes: cada fita é um aminoácido – o total de cores forma a proteina ou o genoma de alguma coisa. Para você ter uma idéia da complexidade disso, temos 35 mil fitas no corpo. O Projeto Genoma é um livro listando essas fitas. A fita é amarelo/verde/verde/azul/vermelho para dizer se você tem um resfriado ou não, por exemplo. Uma vez que a proteína se dobrou no corpo, temos um problema muito difícil de computar, não há poder computacional suficiente. Para resolver esse problema é que surgiu a idéia de inventar um novo tipo de computação: a quântica. Porque para essa operação, precisamos pensar em tetraflops. Um tetraflop é um milhão de bilhões de operações por segundo. Tem um supercomputador na Arábia Saudita assim, a IBM tem 18, a Petrobras e a USP têm, mas não chegam a 500 no mundo todo.
Explique um pouco mais por que é tão complicado um computador entender o contexto… Nossa conversa aqui, apesar de parecer simples, é fenomenal. Nosso entendimento depende de circunstâncias contextuais, históricas, sociais. Se você disser “Todas as sextas-feiras eu almoço com a minha mãe, e você?”, uma frase simples, uma inteligência artificial ainda não entende isso. A clássica sentença “Please write to Mr Right right now” [“Por favor escreva ao Sr. Right agora mesmo”] dá um nó no coitadinho. Outra complicada é você falar “eu vim verificar”, ele pode entender “eu vim ver e ficar”.
Você tem algum método para fazer as previsões? Em geral olho três coisas para prever o futuro: primeiro, o que as pessoas querem? Tem uma coisa na IBM chamada Innovation Jam, todo mundo em harmonia improvisando, é a maneira Wiki de pensar, colaborativa. Abrimos à população mundial para sugerir 5 coisas que querem ver em 5 anos.
No último Innovative Jam, de 2005, 150 mil pessoas de 50 países participaram, e baseado nas respostas deles, investimos 100 milhões de dólares para desenvolver essas 5 idéias. As idéias mudam a cada 3 anos, têm importância relativa. As mais recentes são reconhecimento de fala e entendimento semântico, que cai naquela história de contexto . A segunda coisa pergunto é: “Quais são os grandes problemas do mundo?” Hoje é saúde, reaproveitamento de fontes renováveis de energia, e, pelo menos nos EUA, economia. Finalmente, em terceiro lugar: “quais são as tecnologias que estão surgindo e que ainda podem ser desenvolvidas?”.
Por que ainda engatinhamos na computação quântica? Houve uma aceleração inicial e depois emperramos. Para falar nisso precisamos abordar o que em matemática chamamos de teoria dos conjuntos. Simples: pares, ímpares, conjunto de automóveis, de sapatos, de carecas etc. A lógica é desenvolvida para que perguntemos: este objeto pertence a algum conjunto? Sim ou não. Aí, há 20 anos, na minha universidade, um sujeito percebeu que a teoria de conjuntos não serve para nada na vida real. Porque não temos conjuntos definidos, e sim conjuntos nebulosos. Por exemplo, o citado conjunto dos homens carecas, aí vai da perspectiva da cabeça de cada um [risos].
Então, um colega meu de Berkely, Lotfi Zadeh, inventou a teoria dos conjuntos nebulosos, a lógica difusa ou fuzzy logic. E aí partimos para um desafio: fazer um computador que não pense exatamente em zero e um, sim ou não – existe o estado quântico que não está nem no um nem no zero, e ele funciona com essa incerteza. É o tal negócio, o computador vê uma pessoa do outro lado da rua e se pergunta, “é homem ou mulher?” Você pode responder, “bem, depende do jeito como a pessoa rebola”, mas até aí, como determinar com precisão o que é rebolar mais ou menos?
Como estão as pesquisas da IBM em relação à inteligência artificial? Primeiro precisamos definir o que é inteligência natural. Aliás, o que é inteligência? Aqui, em um programa de TV de perguntas e respostas, tipo Quem quer ser um milionário?, chamado Jeopardy, um cara ganhou 36 milhões de dólares – e foi descoberto que ele tem um baixíssimo QI. A inteligência prejudica? Seres humanos não são precisos como a matemática.
A IBM teve o computador Deep Blue, que ganhou no xadrez de Kasparov. Mas isso não é nada: como diz o professor Zadeh, o problema mais dificil em tecnologia é criar um computador que jogue Jeopardy melhor que qualquer ser humano. A IBM aceitou o desafio e está construindo um campeão mundial de Jeopardy: seu nome é Watson. Você pode acompanhar essas pesquisas encontrando meu avatar no Second Life – meu nome lá é Jampa Babeli, e ele mora em um tapete voador. É um cara muito legal, discute muito comigo. Afinal, não existe a verdade absoluta [risos].

Fora as pesquisas em computação quântica, há também a computação cognitiva… Ainda estamos muito no começo disso, ainda não fizemos um computador que processe mais que 5 qubits – o qubit é o bit quântico, que pode querer dizer, ao mesmo tempo sim e/ou não. Daqui a uns 50 anos, talvez descubramos outra maneira de trabalhar com a computação quântica. Em paralelo, fazemos cognitive computing, em que pesquisamos como restaurar parcialmente a visão de um cego, restaurando funções do córtex.
Tudo isso ainda está bem no começo ainda: a maneira que a IBM ataca para tentar entender o cérebro é tentar copiar um. Já até modelamos o cérebro de um rato. Você pode achar fácil, afinal só se trata de um rato, mas pense bem, um rato é inteligente demais para vir a ser um senador [risos].
O cientista Eric Horvitz presidiu, em fevereiro, uma conferência fechada da Associação para o Avanço da Inteligência Artificial, em que houve um consenso sobre a necessidade de se impor limites às pesquisas que resultem na perda do controle humano sobre sistemas computacionais, para não pôr em risco a sobrevivência do Homo sapiens… Estou permanentemente discutindo isso: se robôs dominarão a humanidade. Mas primeiro precisamos saber o que é inteligência natural. Uma das características da minha pessoa é que eu gosto de simplificar as coisas; se não conseguir simplificar, não entendo. Assim, simplificando, acho que inteligência é a capacidade de extrapolar para uma nova situação conhecimentos ou vivências já definidos. Um índio, infelizmente, não consegue provar um teorema. Se eu disse para um índio que no Brasil não existem mais canibais porque comemos o último o mês passado [risos], ele não vai entender e vai me comer [risos].
Enfim, devemos temer a inteligência artificial? Muitas pessoas acham que sim, mesmo dentro do Vale do Silicio. Aqui há a Singularity University, que investiga o momento em que o ser humano será ultrapassado por uma inteligência artificial – que é quando ocorre a Singularidade. Eu particularmente acredito que o ser humano terá sempre controle sobre aquilo que constrói.
Ray Kurzweil, o grande teórico da Singularidade, quando afirma ser possível fazer um “upload” de sua mente em um corpo mais jovem, em cerca de 30 anos… Certamente que não em 10 anos. Kurzweil é uma dessas pessoas obsessivas que a gente vê de vez em quando. Digamos que você vê que é doente. Uma dor no dedo vira uma paranóia. A crença dele é que seremos dominados por máquinas. Se você disser a um robô “você vai me dominar”, somos nós que dominamos. Agora, é fácil fazer previsões desse tipo, quando você já está com quase 70 anos… [risos]
Alguma previsão sua foi criticada? Tem duas previsões que tive coragem de fazer e que criaram reboliço, mas são triviais – mesmo assim, na época quiseram me despedir da IBM por causa delas. Nos anos 1970, eu disse que o vinil iria desaparecer e o pessoal ficava zangado comigo, por conta da afinidade sentimental com as capas de discos… Nos anos 80, eu disse que o livro iria desaparecer. Agora, digo que os jornais vão desaparecer, assim como a sua revista. Não interessa o invólucro, e sim o conteúdo, e é isso que sua revista produz.
E alguma que deu certo? A que fez com que eu ficasse mais conhecido foi o computador JPC-2K, que inventei nos anos 70. Era um notebook: não tinha fios, se comunicava por ondas eletromagnéticas, tinha tela sensível ao toque, autofalantes, câmera – a única diferença era que o meu JPC tinha uma ranhuma por onde você colocava um papel e saí do outro lado impresso.
O conceito de cloud computing ainda é novo, mas pode ser revolucionário. É viável usar uma grande massa computacional ao redor do mundo para aumentar a capacidade de processamento para um problema – a dobragem de uma proteína, por exemplo? No momento não. A computação em nuvem não é apropriada para computação em paralelo. O objetivo não foi esse, e a arquitetura não foi feita para isso. O futuro da cloud computing é excelente, todos nós acabaremos migrando para isso, ninguém vai precisar carregar um dispositivo para qualquer lugar, porque tudo estará salvo lá na nuvem.
Como você vê a aceleração do tempo que vivemos, aliada à fragmentação do conhecimento exposta em plataformas como o Twitter? Esta é uma geração diferente; eu, por exemplo, nem tenho celular, não sei fazer multiprocessamento, entraria em pânico se tivesse que parar algo que estou fazendo pra fazer outra coisa. Enquanto eu guio não mando mensagens, tento prestar atenção no trânsito. Por outro lado, tenho um raciocínio mais rápido que de muitos jovens. A aceleração tecnológica é realmente incrível. Mas eu guardo o sentido comum, a verificação, a intuição.

Conhece a Curva de Aceitação de Tecnologia? É assim: surge uma nova tecnologia, aí ela voa até o Pico de Expectativas Exageradas; em seguida, cai até que vai ao Vale da Desilusão; daí, sobe de novo, e finalmente atinge o Patamar de Aceitação. Isso serve para tudo. Eu estou sempre estudando as tecnlogias mais velhas, mais aceitas. Os jovens vão para a mais rápida, e se desiludem fácil. É preciso manter a idéia do macro para entender essa velocidade tecnológica.
O que haverá depois da Internet? Será um ambiente habitado majoritariamente por não-humanos. Hoje já existem mais usuários da internet não-humanos, só dez entre cem são pessoas. Dentro de poucos anos teremos um trilhão de usuários de internet. Afinal, todos os objetos serão interligados. Vamos “sensoriar” o mundo muito melhor. A IBM chama isso de Smarter Planet. Saberemos tudo: a condição dos rios, dos peixes, do trânsito, do desmatamento, tomaremos decisões mais inteligentes. Poderemos monitorar uma artéria e agir no momento exato que uma pessoa está prestes a ter um enfarte.
Com o excesso de objetos interligando tudo, será que já não vivemos num mundo orwelliano? Essas medidas não serão medidas de controle, e sim para comprender o mundo. Sobretudo porque as informações serão todas disponíveis para todos. Devemos usar a tecnologia para melhorar nossa qualidade de vida, e não para controlar os outros. A área de saúde vai se beneficiar muito. Imagine um hospital tendo acesso a todos os dados de pessoas que já tiveram o que você já teve.
Sempre sob supervisão médica, o computador pode ser melhor que um médico. No futuro, espero que breve, remédios não servirão para curar doenças, e sim uma pessoa para uma doença: o remédio será on demand, criado a partir do seu material genético. O remédio não será feito para curar uma doença, mas para uma única pessoa com essa doença. É o remédio personalizado.
No futuro tudo será massificado porém personalizado, é isso? A palavra que melhor descrevo para o futuro é Colaboração. O cliente hoje já colabora com o produto e o serviço. O leitor poderá dizer ao escritor no que ele se interessa. O Horizon Project Report, um relatório espetacular, bíblia da educação do futuro, foi elaborado por 50 professores, mas ninguém assina. Sou uma deles.
A WikiPédia desbancou todas as enciclopédias porque é feita por colaboração. Se alguém me perguntasse qual matéria todos os alunos deveriam estudar, digo que seria Técnicas de Colaboração em Web 2.0. Aliás, obrigatório para jornalistas. Porque os jornais, já disse, estão indo para as cucuias.
Chris Anderson, editor da Wired, criou o conceito “cauda longa” que prega que a era digital tornará todos os serviços gratuitos. Você concorda com isso ou acredita, como muitos, de que ‘não existe almoço grátis’ na internet? Música tem que ser grátis se o ato de baixar da internet faz com as pessoas vão a mais concertos e shows. Mas depende de cada produto e serviço. Acho que uma primeira consulta deveria ser grátis, como num médico. No momento, não vejo um grande conflito se você dispõe o seu produto online. Quanto mais pessoas lerem sua matéria, você poderia ganhar mais. Seria pago pela produtividade e pelo sucesso. Os modelos devem ser repensados.
Como vê a posição do Brasil hoje em termos de criação, desenvolvimento e produção de altas tecnologias? Ainda somos muito atrasados… Nem tudo. Meus colegas de ITA criaram a Embraer, eu estava lá quando foi criada. Um dos grandes azares da minha vida foi não ter confiado no Brigadeiro Montenegro, e até briguei com ele, porque não acreditei que a gente pudesse competir com Boeing ou Aerospaciale. E a Embraer é um sucesso hoje.
O Brasil tem capacidade de fazer o que quiser. Vontade política… eu já não sei. Infelizmente o modelo de remuneração é insuficiente. Professores são ridiculamente mal pagos no Brasil. Na França ainda é melhor que nos EUA, o professor se aposenta e recebe 110% do seu salário. Mas não entendo nada da política brasileira. Tem gente até boa no governo, só não sei o quanto mandam. Um dos que passaram pelo ITA hoje está à frente do avançadíssimo Projeto CESAR em Pernambuco, o Silvio Meira.
Você me parece um otimista, mas temos hoje previsões sombrias, como o aquecimento global… acha que vamos dar um jeito nisso antes de a coisa ficar preta? Se você não for otimista fazendo pesquisa, nunca vai tentar coisas impossíveis. Só alcançamos o possível por acaso: procurávamos umas coisonas e achamos coisinhas. Uma vez, em matemática, eu estudava teoria dos grupos, queria criar uma teoria nova para escrever um artigo e fazer um dinheiro – e de repente pensei: aquele estudo serviria para criar códigos de criptografia. Hoje esses estudos estão adotados pela IBM.
Outra coisa foi a extrema miniaturização de câmeras, que não passa de um sensor de imagem. Queríamos câmeras pequenas, para colocar na moldura de um espelho – a idéia era criar espelhos inteligentes para festas, reuniões. Se tivesse nos óculos uma câmera discreta, poderia captar a imagem para enviá-la a um computador. Então pensamos: se tenho uma câmera olhando alguma coisa, estamos transformando essa imagem em sinais elétricos; por que não retornar a informação ao córtex para excitar os nervos de uma pessoa cega, e assim restituir a visão a um cego? Na IBM acontece o tempo todo atirar no que se vê e acertar no que não se viu. Um exemplo é o colete à prova de balas que avisa quando alguém atirou uma bala em você – uma microcâmera percebe a aproximação rapidíssima de um pequeno objeto. Foi sem querer que inventamos isso…
Incrível!
Em 1998, eu estava trabalhando na IBM da Tutóia, aqui em São Paulo, Tive a oportunidade de tomar um longo café da manhã com o Sr. Jacob. Ele usava um cajado para apoiar-se e carregava umas 10 revistas, todas brasileiras. Do que pute notar na época, uma delas era a extinta “República”, que tinha na capa o Fernando Henrique. Eu perguntei ao Jacob qual era o produto de que mais gostava, e ele comentou que vários cativavam. Exatamente, pelo poder de utilidade e apego. Como exemplo, sitou o walkman e o relógio Swatch. Foi uma manhã que marcou muito minha vida. Exatamente, porque sabia da importância dele no mundo científico. Demonstrou ser um senhor gentil, educado, de fala pausada e acessível. Na época, eu estava começando minha carreira na empresa e Jacob foi uma luz que muito iluminou meu campo de visão. Pena que muitas empresas no Brasil não estão preparadas para dar o desenvolvimento que muitos profissionais merecem. Daí, o desperdício de talentos é inevitável. Hoje, desperdiçamos capital intelectual. E a falha está em todos os níveis, em processos, em políticas e em gestões. Só faltou comentar que Jacob saiu do Brasil para conhecer países diferentes. Queria ter um emprego em cada país. E acabou caindo na IBM da Europa, depois, USA. E desistiu de conhecer o mundo da forma como idealizada enquanto jovem. Acabou conhecendo o mundo de outra forma, viajando a negócios através da empresa ao qual ficou a maior parte de sua vida. O fato de ser brasileiro nos inspira sim. Mas não é tudo. Acho que ele é um sujeito que busca, sempre e isto é um fator característico de cada um. Não acredito que seja cultural. Um forte abraço, Humberto.
Olá caríssimo Ronaldo!
Peço um minuto da sua atenção, assim como o seu blog sensacional (e principalmente essa entrevista reveladora do matemático da IBM) conseguiu a minha.
Me chamo Tiago Tenório Cavalcanti, tenho dois blogs – de poesia e crônica (esse segundo tem o link do seu Impostor), e estou lançando um outro, onde publicarei meu romance em capítulos virtuais.
Enfim, este é um convite que faço para que visite o espaço, repare se gosta de alguma coisa, deixe seus comentários, me ajude a descobrir se o texto vale alguma coisa ou não. Será um prazer tê-lo por lá!
Desde já, agradecido
Tiago
garciavaimorrer.wordpress.com
quem teve o privilégio de assistir às palestras q o Jean-Paul dava, nos congressos da SUCESU, pode apreciar o showman bem-humorado e rápido q ele é!!
enquanto vc estava rindo da última tirada q ele sacou no ar, ele já estava metralhando o próximo conceito, e em um segundo vc podia perder uma informação importante!
OBRIGADO JEAN-PAUL, por seu esforço para nos mostrar o futuro!!!