Seqüência das mais emocionantes do doc Ninguém sabe o duro que eu dei, sobre o Wilson Simonal. Parece um pouco o livro do Ruy Castro sobre Garrincha: do começo à metade é só subida, da metade pro fim é queda livre até passar do chão.
A cena em que Simona divide os microfones com Sarah Vaughn ilumina o maior pecado do cantor de “Nem vem que não tem”: o salto-alto. Simonal cantava pra caralho, mas debochava do próprio talento, como quem dissesse “olha como sou foda” o tempo todo em que estava sendo foda.
Nego não perdoa a máscara aqui. O insuportável Oasis mal circularia e, fosse brasileiro o Lennon, depois daquela frase sobre Jesus certamente seria excomungado pelo gênio que habita a Santa Sé de Olinda. E é só o mascarado dar brecha e vacilar que a casa cai: se o Ronaldo Gaúcho estivesse jogando no Brasil quando sua bola virou bolinha, seria espancado na rua. Não foi pouca gente – de todas as torcidas – que comemorou a recente contusão do arrogante Rogério Ceni, goleiro do mais empinado dos clubes: “Bem-feito!”.
Outra confirmação do doc – que é duca, na narrativa, na estrutura gráfica, nos depoimentos de época e nos personagens -, é o fato de não haver imprensa independente no Brasil nos anos 70: ou se era contra, ou a favor. Incrível, mas foram necessários mais de 30 anos para fazer um trabalho tão elementar quanto conferir a versão do pivô do processo que levou à derrocada do Simona. Nem isso, nem outro erro básico: nem um só repórter entrevistou o cantor na época.
Mais não falo – pior que usar salto-alto é contar o fim do filme. UPDATE: uma reportagem excepcional sobre Simonal, vida, obra, documentário e toda a cadeia de conexões que cercam esse misterioso buraco negro da nossa música acabam de chegar ao blog do Pedro Alexandre Sanches.
Ronaldo Bressane 
Nenhum pensamento