Mallu & Vanguart
> Ufa. Ao terminar um ano xexelento, com festivais chinfrins, álbuns meia-boca, shows de gringos mofados e revivals xaroposos de fazer corar a defunta Dercy Gonçalves [porra, curadoria, vamo trabalhar?], as coisas musicais começam a respirar na season primavera-verão. Depois do ótimo Camelo/Hurtmold, o fodaço do Cérebro Eletrônico e o maravilhoso Little Joy, do Amarante, breve teremos novos do Junio Barreto, do Otto e, entre otras cositas, a primeira parceria Mallu Magalhães/ Vanguart [não é isso que você está pensando…]. Segue o perfil da minha banda cuiabana favorita, escrito pra RGVogue:
Caipira indie conquista o Brasil
Era neurônio demais na cabeça. Começo de 2007, eu cobria um simpósio de neurociência em Natal (RN) e precisava urgente de algum rock’n’roll. Hermano Vianna deu a dica: tem uma tal de Vanguart tocando no Do Sol, o boteco underground local. Chegamos, e o quinteto cuiabano surgia numa porrada psicodélica que eu não via desde os melhores momentos do Júpiter Maçã. Moleques de 20 e poucos anos com a urgência e o refino sonoro de um Mombojó.
Tudo bem que eles apelaram para várias dos Beatles, uma do Velvet Underground e “Maggie’s Farm”, de Bob Dylan, que detonou um maravilhoso mosh em série de garotas de saias e um alucinante pogo na platéia, incendiando Do Sol ao encerrar com o hit da banda, a agnóstica “Semáforo” e seu refrão que explica do que se trata a juventude: “Todos os seus amigos querem morrer”.
“Estão prontos”, entusiasmava-se Hermano. Claro: os caras tocam como se conquistassem o Velho Oeste. Impressiona a pegada dos moleques, o senso climático, o timing – além da falta de frescura, marcante no no visual cuiabano. O Radiohead dos primeiros álbuns, Neil Young, Violent Femmes e Pixies ecoam nas músicas de até 10 minutos, cantadas em inglês e português (os shows chegam a 1h40). Com uma grande voz, ao mesmo tempo afinada e raivosa, melódica e ensandecida baixinho Helio, 23, comanda o som como veterano. O garoto viveu quase um ano na Bolívia, morou grande parte da vida em Cuiabá mas nasceu em Londrina.
Chega de beatniks
Agora vivendo em São Paulo, Flanders lidera a principal banda indie do país – e, de certa forma, puxa o cortejo da renascença folk. No momento, grava o segundo álbum do Vanguart, que deve sair no começo de 2009, ainda sem nenhuma grande gravadora (apesar do interesse da Som Livre). “Estamos mais para Dorival Caymmi, mais lentos. Deve ter mais canções em português”, diz. “Claro que pesa a influência de São Paulo. Não vamos tirar a temática ‘campesina’ da gente, mas agora falo mais de rio, mar, madeira, e menos em mato”, sugere.
Mudou como músico? “Componho mais no piano que no violão. E sou um homem, agora!”, ri. Helinho não explica o motivo de o folk virar hype. “Infelizmente, é só uma modinha: de repente as pessoas voltam os ouvidos pra uma coisa, é o documentário do Martin Scorcese sobre Bob Dylan, é um filme como Juno que repercute… Logo passa. Assim como bandas tipo Bad Folks e Grenade, a gente faz esse som há uns 4 anos. Depois que a moda passar, vamos continuar fazendo”, afirma o compositor, ora amarradão nos blueseiros Mississipi John Hurt e Leadbelly, com os 100 Sonetos de Neruda na cabeceira: “Parei de ler os beatniks, estavam me levando pras drogas…”, ri.
O Vanguart finaliza um DVD gravado no ItaúCultural e participou da trilha de Augustas, longa de Francisco Cesar Filho estrelado por Mário Bortolotto, com uma cover de Fellini, “Amor louco”. Além do Vanguart, Helinho se juntou a Zé Mazzei (Forgotten Boys) em outro projeto folk. “Vamos chamar vários crooners para nossas canções, principalmente mulheres”, diz – entre elas, a veterana Cida Moreira, cujo disco com canções de Tom Waits não sai do iPod de Flanders, e a garota-prodígio Mallu Magalhães. O cantor aliás faz questão de dissipar uma das fofocas mais tecladas na rede: “Não estou namorando a Mallu. Poxa, ela é muito novinha!”.
UPDATE: No meio tempo que escrevi essa matéria e ela foi publicada pela RG, Helinho namorou a Mallu… que já trocou o cuiabano pelo carioca Camelo. O pop não poupa ninguém…
avanti!!