Sou habitada por um grito.
Toda noite ele voa
À procura, com suas garras, de algo para amar.
Tenho medo dessa coisa escura
Que dorme em mim;
O dia todo sinto seu roçar suave e macio, sua maldade.
Nuvens passam e se dispersam.
São essas as faces do amor, pálidas, irrecuperáveis?
É por isto que agito meu coração?
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Trecho de “O olmo”, em Ariel [Verus Editora], edição restaurada e bilíngüe, com os manuscritos originais, na ordem deixada por Sylvia Plath antes de morrer – diferentemente da versão mais conhecida, editada em 1965 pelo marido, o poeta Ted Hugues. A tradução aqui é de Rodrigo Garcia Lopes e Maria Cristina Lenz de Macedo. Hugues teria se perturbado com a confessionalidade de 13 poemas de Plath e por isso os limou da primeira versão, descaracterizando a obra, principal coletânea poética da escritora nascida em Boston. Esta edição só foi publicada ano passado – 41 anos depois da vontade da autora, conforme conta sua filha Frieda no prefácio.