Era neurônio demais na cabeça. Precisava urgentemente de algum rock’n’roll. Hermano Vianna deu a dica: tem uma tal de Vanguart tocando na Ribeira, bairro histórico de Natal. Chegando no Do Sol, o boteco mais underground da cidade, somos recepcionados por Buca Dantas, o papa do cinema-processo – espécie de “logística” criada por ele para realizar filmes na marra. O galpão-bar tem lá suas 50 pessoas e a banda principal do festival que está rolando desde as 5 da tarde ainda não entrou. Três cervejas depois, no palco aparece a boa nova: a melhor banda do Brasil [pelo menos esta semana] vem de Cuiabá.
O quinteto surge numa porrada psicodélica que eu não via desde os melhores momentos do Jupiter Apple. Uns moleques de 20 e poucos anos – mas com a urgência e o refino sonoro de um Mombojó. Tudo bem que eles apelaram: tocaram 4 dos Beatles [“Dig a pony”, “Penny Lane”, “Sergeant Peppers”, “With a little help”… “sabemos umas 20”, disse depois Helio, vocal/violão/gaita]. Mandaram esplendidamente “Femme fatale” do Velvet. E uma do Dylan que não me lembro o nome, mas que detonou um maravilhoso mosh em série de garotas de saia e um alucinante pogo na platéia [sim, foi o que disse…. tudo isso acontecendo enquanto se tocava Dylan].
Não só nas covers, mas nas psicodélicas canções “autorais” [os caras usam muito esse termo por aqui, tantas são as bandas covers], impressiona a pegada dos moleques, o senso climático, o timing – além da falta de frescura, marcante no no visual dos cuiabanos. O Radiohead dos primeiros álbuns, Neil Young, Violent Femmes e Pixies ecoam nas músicas de até 10 minutos, cantadas em inglês e português. E a banda não é atropelada pela mística do “tocar bem”, embora se saque que ali são todos craques. “Estão prontos”, entusiasmava-se Hermano. Claro: os caras tocam como se estivessem conquistando o Velho Oeste.
O baixinho Helio, 22, comanda o som como veterano, e tem uma grande voz, ao mesmo tempo afinada e raivosa, melódica e ensandecida. Horas depois, na pizzaria Calígula [ornada por vários retratos de Jesus Cristo…], Helinho falava de sua formação: John Coltrane, Elis e Tom e o escritor Ricardo Guilherme Dicke. Tanta esquisitice se explica: o garoto viveu alguns meses na Bolívia, morou na fronteira matogrossense e nasceu… em Londrina, claro.
É meio besta, mas sempre necessário, constatar que música boa não vem só do famigerado eixo SP-Rio ou das emergentes Recife e Porto Alegre. Uma Vanguart por semana, tocando nos lugares certos, e bandinhas poseur como Forgotten Boys ou Moptop iriam para seu devido lugar. Falar nisso, os cuiabanos tocam em SP em 9 de março, na Inferno. Um lugar ideal para a banda começar sua estratégia de dominação. Bora lá.
Cuiabanos? Esses caras não prestam.
eu vi eles no recbeat. adorei mesmo.
Não prestam mesmo.
e jogam botão cunscaralho.
Dizem que Macaco Bong, outra grupo de lá, é muito bong também.
Eu vi no RecBeat e gostei, mas peguei só o finalzim, e acho q não era o palco adequado – a banda tem um pique Hurtmold, seria mais legal ver no CB.
Abz
RB
Moptop poser? hahahahaha que piada…
Bressane, quanto tempo… Vanguart é uma boa, ótima banda mesmo. Cuiabá, de repente, ficou só um ponto de partida na estrada que essa gurizada deve percorrer. Outra banda daqui, Macaco Bong, também merece vosso refinado tímpano. Temos também uma orquestra de câmara onde violas de cocho contracenam com a música erudita. Abraços