Fominha

Com mais de cem filmes no currículo, Dunia Montenegro, carioca, mulata, atriz, diretora, mãe, bissexual e ninfomaníaca, é a maior estrela pornô da Espanha. Insaciável, ela promete agora abocanhar o mercado brasileiro

La Montenegro em momento bem-comportado

            Tem que ter muita disciplina pra encarar uma suruba de nove horas. Mas foi graças à educação linha-dura imposta pelo avô militar que Dunia Montenegro, 33, imprimiu seu jeitinho disciplinado às artes pornográficas e se tornou uma impressionante sex machine. Até os 18, Dunia era uma virginal cabrocha de Padre Miguel a ajoelhar mais na igreja que no baile funk – mas, sempre que escapulia da sisudez dos avós, dava suas requebradinhas na quadra da escola de samba. Órfã de pai desde pequena, aos 17 perdeu a mãe, vítima da Aids. Foi obrigada a aparafusar a buzanfa num trampo mala de informática, das nove às seis sentadinha, ó desperdício. Convidada a desvendar sua ginga em uma companhia de samba & capoeira, saiu do Rio de Janeiro aos 19 para viver na Espanha. Lá, dançou, namorou, apaixonou-se, casou-se, se tornou mãe, foi traída pelo marido, emputeceu-se – e, no que quis se vingar do ex, acabou viciada em nheco-nheco.

            Já trabalhando como stripper, transava com o primeiro que aparecesse; e com o segundo, a terceira, o quarto e a quinta também, de segunda a segunda, antes, durante e depois do expediente. Alucinada por uma putariazinha, após um perrengue financeiro sacou que podia juntar o útero ao agradável – ganharia bem mais aplicando sua expertise no mercado pornô espanhol, terceiro maior da Europa. Com sua exótica mulatice, frisson por sessões de sexo extremo, e, lembremos, severa disciplina, a mignonette (1,65m e 62 kg) não demorou a virar a rainha da tripla penetração, adicta em anoxia, maníaca do fist fucking e malabarista no squirt.

            Simpática, esperta e sempre disposta a uma farra, Dunia se tornou figura querida tanto na TV espanhola quanto nos festivais eróticos europeus, sem falar no blog superacessado, nos DVDs e nas cenas vendidas para celulares – atuou em cerca de 100 filmes e fez mais de 200 cenas (não sabe precisar, do mesmo modo que mal contabiliza quantos homens e mulheres zanzaram por suas curvas).

            Direto de seu apê no bacana bairro de Pedralves, Barcelona, a musa conversou com o repórter por três deliciosas horas. A seguir, você acompanha as aventuras de Dunia no mundo do sexo hardcore, descobre como a pirataria está de sacanagem com o pornô, aprende as mumunhas de um belo squirt e entende por que os atores do cinema adulto são a vanguarda do desbravamento do corpo.

PRIMEIRA VEZ

            Comecei no pornô aos 27, quando era stripper. Tava vendo um filme tão bonito, as meninas chiques e elegantes, parei e pensei: bem que podia estar ali… era o Garganta Profunda. Faturava 90 euros por noite no strip; quando descobri que um show pornô rende 600 euros, falei “Bora!”. Tinha recém me separado, fase difícil, ninguém dava força, pra que me importar com o que o povo pensa? O casting foi horroroso: o menino era novo também, e veio direto, aaaiii! Poxa, pensam que a gente já nasce nasce dilatada pro anal? O menino era enooooorrrme… Quase desmaiei, puta que pariu! Não acreditava na dor! Falei: agüenta, se vira nos 30! Levei bem, e saiu um filme, Sexo Style. Foi maravilhoso, ganhei um dinheirão. Logo de cara fiz 7 mil dólares numa semana – hoje em dia não se ganha tanto. Realmente era minha onda! Acabei me apaixonando pelo ator na primeira vez que fizemos amor. Mas assim que ele cansou de mim, foi atrás de carne nova – então, já vi que no pornô não dá pra ter ligação sentimental.

TARADA POR SEXO

            Quando me separei, estava tão revoltada que literalmente me maltratava, porque o ninfomaníaco maltrata o próprio corpo: ficava com muita gente desconhecida, feia, ia pra uma discoteca, pegava 12 garçons ao mesmo tempo, acordava, nem sabia quem era… não era nada divertido. Em vez de fazer terapia, fui fazer pornô. É onde descarrego meu stress. Felizmente, sempre fiz tudo com proteção. Minha mãe morreu de Aids, então sou medrosa, sempre fiz teste de tudo. A cada 3 semanas fazemos testes. Antes de gravar, mostramos testes uns para os outros. Teste de tudo! Sou chata. Já vi atores e atrizes gravarem sem pedir testes; eu, nunca. Nem é pela Aids, mas você pode pegar outra doença, fica 2 semanas tratando, perde trabalho, perde dinheiro.

NAMORAR É FODA

            Passei cinco anos solteira, o máximo que namorei foram 3 meses. Relação estável é difícil. Meu trabalho, minhas amizades, minha filha me enchem tanto que não sinto falta de namorado. Me conformo em ser solitária. Afinal, sempre que deixei tudo por um homem não deu certo. E posso me casar com 50… Mas aí eu não quero ser a vovó quente do sexo não, vou ficar com os netos!

AMOR DE MÃE

            Criei minha filha para me respeitar como eu sou. Hoje a Andrea tem 10 anos. Quando trabalhava como stripper e garçonete, precisava deixar com babá, às vezes passava 5 dias sem ver, chorava chorava chorava. No pornô, já conseguia ficar mais tempo com ela. A Andrea não sabe o que faço, mas um dia vou explicar tudo direitinho. E o mais importante é o amor. Ela mora com o pai nas Ilhas Canárias. Vou lá todo mês. Morro de saudade, mas com o tempo a gente acostuma.

PUSSY POWER

            Sou politizada, reinvindico os direitos das mulheres pelo pornô. Luto por um contrato para cada filme: é um absurdo você foder hoje e daqui a 30 anos nego ganhar com a sua foda, não é justo! Hoje sou a única atriz da Espanha que vive do pornô. O mercado estagnou na Europa. A pirataria fodeu com o pornô! E também tem a concorrência do pornô feito por pessoas normais. O bom é que há muitos festivais eróticos… shows lésbicos, trocas de casais, surubas, sadomasoquismo. Estive num em Sevilha que levou 15 mil pessoas, 20 euros cada. Três shows por dia, interagimos com os fãs… Não, eles não transam com a gente, só usam um vibrador de plástico… porque ficam nervosos: teve um que precisou chamar ambulância por conta da ansiedade, ô dó.

FODÕES

            A gente pensa que sabe muito sobre sexo, mas no pornô descobre que não sabe nada. Antes eu tentava fazer dupla penetração, mas doía. A primeira vez que consegui, adorei aquela luta de espadas dentro de mim! Só que tem um problema: quando você pega a prática e encara a vida real, é como comer num puta restaurante e depois ser obrigado a ir pro MacDonald’s. Por isso é tão difícil ficar com um menino fora do pornô: se eu pego, tenho que controlar meus impulsos, ser a loba em pele de cordeiro, hahaha. Acho mesmo que os atores pornôs estão na vanguarda do sexo, estamos em outro patamar. Os atores pornôs fazem hoje o sexo de amanhã.

HOMENS X MULHERES

            Na noite, tem os caras que, como sabem que sou do pornô, fogem de medo. Outro dia saí com um famoso aqui da Espanha, não vou falar nunca o nome: broxou. Tem também outros que querem mostrar que são fodões; isso me entedia. Poxa, eu só quero um cara seguro de si mesmo. Por isso saio mais com mulheres. Mas eu sou otimista. Tenho fé nos homens. Porque as mulheres são ciumentas demais. É pior que marido! E eu tenho uma fama terrível de comer todo mundo. Nunca confiam em mim. Aí, se me pego gostando de atores pornôs que são como eu, vira a terceira guerra mundial. Por isso desisti de namorar.

QUANTOS?

            Uuuiii… Não tem como: é fácil chegar a mil quando você começa de dez em dez. Acho que uns 800 homens e umas 200 mulheres. Na época pós-separação, se eu escrevesse o que fazia toda noite acabariam as árvores do planeta. Saía todos os dias com uma pessoa. Foi pauleira. Agora estou tranquila, fui numa festinha 6a feira, fiquei com um menino… Mas no dia seguinte já quero que a pessoa vá embora. Mulher é terrível, fica de romancinho… eu sou igual um homem: não liguei, porra, porque já fizemos o que era pra fazer, não quero casar contigo! O de sexta nem perguntei o nome, tinha uns 19. Não falamos absolutamente nada, nem antes nem durante nem depois. Depois que acaba o prazer, acabou.

MALABARISMOS

            O que me atrai é o caráter da pessoa. Por isso fico também com cara de pau pequeno, a musculatura vai e volta, tem fácil adaptação, hahaha. Usei muito a bolinha chinesa [anal bead], ficava o dia todo com uma pra dentro e pra fora, pra dentro e pra fora. Hoje faço muito fist fucking. Aprendi a ter orgasmo tendo squirt, sabe, jogando aquele jato lá longe, é superdifícil. Conheço garotas que fazem de tudo com a vagina: fumam, assinam com a caneta, tocam gaita, sentam num prato de leite, sugam e atiram longe. É um conselho: amiga, bota a bolinha na entrada, fica apertando pra dentro e pra fora – mulher que faz isso nunca vai ter incontinência urinária. E sempre vai deixar apertadinho o seu homem.

DUPLA PENETRAÇÃO ANAL

            Fiz uma vez só. Pensei: se cabe uma mão lá dentro, devem caber dois paus menores. Tinha medo de ter uma fissura, mas tava tão excitada… Ninguém sabe do que é capaz o corpo quando estamos na loucura. Já vi um cara enfiar um pé num velho por trás. É incrível! Com sexo anal eu gozo, mas não com dois ali, é uma posição incômoda. Gravei a minha DPA pra mim. Se eu rasgasse meu cu, ia ser só pra mim, pra mais ninguém!

GOZO FABULOSO

            Nos shows não gozo, nos filmes sim. Você esquece que tem equipe, controla o corpo. Se tou com vontade de gozar, sempre desfruto. O que faço é extremo, não tem dinheiro que pague! A coisa mais extrema que fiz foi com um namorado. Nossa, me deu distensão, ele me arrancou tufos de cabelo, abriu toda minha boca, fiquei lotada de hematomas… mas como eu gostava! A coisa vai subindo, subindo, subindo, entende? Ele me batia tão gostoso, eu provocava, xingava ele, “seu viado!”, cuspia na cara dele, não sentia dor… estava em transe, quanto mais me enforcava mais prazer sentia, aí percebi que dá pra morrer fazendo isso. Não lembro de nada: ele me puxava o cabelo, dava na cara, me sufocava, e foi como se eu saísse do meu corpo, estava gozando e fiquei inconsciente, desmaiada, morta uns 5 minutos, saí, fui pra longe, me vi fora do corpo, era outra pessoa que estava ali fodendo, apanhando, rindo, chorando, aí quando voltei pro corpo eu voltei para dentro do orgasmo ainda… foi o melhor gozo da minha vida! Depois, peguei medo. Só faço isso com atores. Sabe, poxa, você pode ficar sem oxigênio no cérebro e virar lelé da cuca.

MULHER DE FASES

            Tem épocas que gosto de vibradores, época que preciso gozar pelo clítoris. Quando fico muito tempo tranqüila, começo a fazer maluquice. Já fiquei 3 semanas sem fazer nada, só indo na academia todo dia. Aí saí numa 4a feira e voltei pra casa 5 noites depois! Fui num show de rock, tirei a roupa, dali saí com um casal, nem sabia onde tava, no dia seguinte fiquei com um fã, depois uma menina, aí um outro casal, em seguida uma orgia com 6 pessoas, no domingo uma menina, depois um famoso, aí conheci um cara no avião… ele tinha acabado de sair da cadeia, chamei pra ir pro banheiro: era como um polvo, cheio de mãos, um polvo drogado com uma sopa de Viagra. Quando contei 14 pessoas, resolvi ir pra casa de uma amiga, descansar. Escrevi depois tudo no meu blog. Muita gente pensa que é mentira, mas nossa vida é muito diferente mesmo…

ESGUICHA NI MIM

            Como treinei muito o músculo da vagina, estimulo o ponto G sem me tocar. Outro dia estava num jantar, disse: meu povo, deixa eu me concentrar. No fim, molhei a calcinha toda. Teve um dia que saí com uma colombiana e foi incrível, ela me fez ter 6 squirts seguidos, pensei que fosse me desintegrar, poderia até ter continuado, mas tive medo. O clítoris é uma árvore: a raiz é o ponto G, ali onde tem uma zona mais rugosa, áspera como uma amêndoa, você estimula com o dedo, a barriga pra cima, depois põe dois dedos, devagar, depois mais forte, dá uns tapinhas no clítoris, você tende a fechar as pernas mas tem que abrir, de repente parece que vai fazer xixi, não é agradável, tem que relaxar, aí vem como se fosse uma descarga de energia e shhh!… É sempre um orgasmo que não satisfaz: pode ter 5, 10, 15 orgasmos, quanto mais faz, mais quer, é estranho…

FORA DO BATENTE

            Se estou de férias, vou escrever meu blog, gravar filmes. Quando desconecto, pego minha amiga, vou pra discoteca, Biquíni, Mojito, Catwalk, Opium, Shoko. Gosto muito de música negra, funk, pagode, 50 Cent, Beyoncé, Snoopy Doog, Jorge Aragão, Alcione, Zeca Pagodinho. Mas outro dia descobri o Hammstein, banda de hardrock que fez um clip pornô, achei genial.

TRISTEZA & REZA

            Em 2005 trabalhei num club de strip horroroso, vinham umas meninas africanas que não falavam espanhol, aquele olhar triste, de canto, tudo muito secreto, me davam pena. Nunca vi tanta tristeza em alguém, as meninas ficavam cinco horas com olhar perdido. Só podia ser tráfico de escravas. É difícil me deixar triste. Pensar na filha também me entristece, tenho muita saudade. Aí, rezo. Sou muito católica. Rezo todo dia, vou à missa. Outro dia, pela primeira vez na vida, me confessei. Coisinhas bestas, mas de repente o padre veio: filha, você vê pornografia? Ele deve ver pornô, esse padre! Menti, não tive coragem de contar minha vida. Paguei cinco pais-nossos…

SONHOS

            Não sou ambiciosa, valorizo as coisas que tenho. Já perdi muitas jóias, mas gasto horrores é em creme, 600, mil euros… Meu sonho é bem família: casar de novo, ter mais filhos. Esses dias tava pensando em parar, trabalhar só como diretora, talvez voltar pro Brasil pra dirigir, me dizem que aí o mercado está aquecido. Então, quem sabe consigo namorar. No fundo, sou muito romântica. Os melhores orgasmos foram quando eu amava o cara. E faz tempo que não tenho uma noite com rosas na cama, incenso, velas, muito amor, Marisa Monte, “Bem que se quiiiisss”… ai ai ai… 

 

Autor: rbressane

Writer, journalist, editor

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