Pense melhor. Pense mal


A Malpensante é uma das boas descobertas que trouxe de meu mês e pouco na Colômbia. É uma das duas revistas nacionais de literatura [a outra é a ótima Arcadia]. O que nos lembra que, apesar de umas coisas bizarras, vagamente profissionais, vagamente universitárias que vemos nas bancas [tipo essas revistas com títulos no gerúndio], não existe no Brasil uma revista nacional mensal de literatura. A honrosa aproximação, embora mais focada em jornalismo, é a Piauí.

Fundada em 1996, a Malpensante vende 30 mil exemplares mensais – número que, não sei se pra você, mas pra mim enche de vergonha, se a gente lembra que existem 40 milhões de colombianos para 184 milhões de brasileiros, e se a gente lembra de nosso arrotado gigantismo en Latinoamérica. Pense nisso antes de fazer uma piadinha sobre colombianos cocainômanos [como me sugeriram alguns vendedores de livrarias bacanas de SP, nenhuma a dispor de um Lonely Planet Colombia em suas estantes]. Depois, vá às bancas contar a quantidade de revistas de celebridades que temos – isso sem falar nas que são revistas de celebridades mas jogam um verniz de cultura em cima, pra disfarçar.

Bílis de lado, o caso é que na última edição da Malpensante topamos com um poema inédito do…

leonard_cohen

Leonard Cohen, “El Cornudo”

Si esto parece un poema
ya te aviso desde el comienzo
que no era mi intención.
No quiero convertir nada en poesía.
Lo sé todo de ella
pero eso ahora no importa.
Esto es algo entre tú y yo.
Personalmente, me importa un carajo
quién llevó a quién:
de hecho, me pregunto si algo me importa en verdad.
Pero se supone que un hombre debe decir algo.
En cualquier caso: la ahogaste en cerveza,
te la llevaste a tu cuarto, pusiste los discos apropiados,
y en una hora o dos todo acabó.
Lo sé todo de la pasión y el honor
pero por desgracia aquí no pintan nada:
ah sí, hubo pasión, ya me imagino
e incluso un poco de honor,
pero lo importante era ponerle los cuernos a Leonard Cohen.
Joder, ya que estamos, puedo decírselo también a ella.
No me queda tiempo para escribir más.
Debo rezar.
Debo esperar junto a la ventana.
Lo repito: lo importante era ponerle los cuernos a Leonard Cohen.
Me gusta esa línea porque incluye mi nombre.
Lo que realmente me pone enfermo
es que todo sigue como antes:
todavía soy una especie de amigo,
todavía soy una especie de amante.
Pero no por mucho tiempo.
Por eso os aviso.
De hecho, me estoy transformando en oro.
Es un proceso largo, dicen,
ocurre por etapas.
Esto es para informaros
que ya me he transformado en piedra.

.

Da citada Arcadia, sugiro a leitura da excelente entrevista com Horace Egdahl, que em junho se despede da secreta e cabulosa tarefa de gerenciar os votos literários da Academia Sueca – sim, é o cara que primeiro sabe quem ganha o Nobel de Literatura. Quer dizer, sabia. O que me lembra… que os colombianos já fizeram o seu Nobel.

Autor: rbressane

Writer, journalist, editor

4 pensamentos

  1. enquanto isso no brasil, uma briguinha ameaça os poucos recursos que garantem a coyote, pra mim a grande revista de literatura do país, pena, sem periodicidade e com tiragem bem menor do que merecem os que a fazem. abração!

  2. Ronaldo,

    joia. O leonardão dando bola dentro.

    Escuta, vamos nessa né? Até temos revista literária: bom, celebridades literárias.

    Acho que sua questão vai sem resposta mesmo. Como fazer a revista que seja representativa das demandas literárias, e outra, feita, comofazer virar, durar mais de seis meses.

    Vamos ter que chamar célebres sempre?

    Abraço. Vamos de ùltimo jornal da terra.

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