Eu tinha 13 anos e nenhum amigo em Porto Alegre. Uma cidade bonita, fria e, para um adolescente paulistano, irremediavelmente caipira e bairrista. Me salvou a bela biblioteca do colégio Glória, onde achei O Livro Preto. Histórias extraordinárias. Pra que amigos, quando você é um creep que acabou de encontrar o seu weirdo gêmeo? A IpanemaFM, os parques da cidade e os gatos pretos de Poe seriam a melhor companhia imaginável. Faz 25 anos, todo ano releio este livro pra recuperar o maravilhamento embutido em contos perfeitos que ainda assustam, divertem – e confortam. Como na manhã de tédio em que me escondi no campanário da igreja do Glória para ler o Cara, cercado por pombas, morcegos e sons misteriosos, criados pelo Minuano de inverno ao lamber o grande sino – quando tive a certeza do que queria ser, dali para a frente. Quatro anos depois, escrevi este conto inspirado no ‘Corvo’. Fica de presente. Happy b-day, Master.