O berço da Matrix

1a edição Neuromancer
1a edição Neuromancer


O céu sobre o porto tinha a cor de uma TV sintonizada num canal fora do ar.

– Não é que eu esteja usando – Case ouviu alguém dizer ao abrir caminho na multidão aglomerada na porta do Chat. – Meu corpo é que desenvolveu uma deficiência maciça de drogas. – Era uma voz do Sprawl e uma piada do Sprawl. O Chatsubo era um bar de expatriados profissionais; você podia beber ali todos os dias durante uma semana e nunca ouvir uma palavra em japonês.

> Abertura de Neuromancer, premiada estréia de William Gibson no romance e livro fundador do cyberpunk. Um estilo literário que tanto influenciou a moderna ficção-científica quanto a investigação tecnológica sobre a Rede, que só nasceria dali a 7 anos [o termo ciberespaço surge aqui pela primeira vez], sem falar na contaminação do imaginário de massa: a trilogia cinematográfica Matrix baseia-se no livro de Gibson [pra não dizer que chupa mesmo, uma vez que os irmãos Wachowski nunca deram os braços a torcer]. Leia a web antes da web:

“Ciberespaço. Uma alucinação consensual vivenciada diariamente por bilhões de operadores autorizados, em todas as nações, por crianças que estão aprendendo conceitos matemáticos… uma representação gráfica de dados abstraídos dos bancos de todos os computadores do sistema humano. Uma complexidade impensável. Linhas de luz alinhadas no não-espaço da mente, aglomerados e constelações de dados. Como luzes da cidade, se afastando…”

A Aleph, que há 3 anos republicou o livro sob a tradução/transcriação de Alex Antunes, coloca nas livrarias edição comemorativa dos 25 anos do romance, agora sob a tradução mais literal de Fábio Fernandes. O livro ganhou glossário e um posfácio da pesquisadora Adriana Amaral.

A edição faz parte de uma invasão de Gibson às prateleiras: Neuromancer forma ao lado dos também lançados Count Zero e Monalisa Overdrive a Trilogia do Sprawl; e um mergulho do romancista norte-americano/canadense na contemporaneidade pode ser acessado no irônico Reconhecimento de padrões [em que uma requisitada coolhunter tem surtos psicóticos ao ver logomarcas como o bonequinho da Michelin e que por conta dessa aversão antihype só se veste com roupas vintage fake, como uma réplica japonesa da jaqueta norte-americana Buzz Rickson MA1 dos anos 50 – curiosamente, o livro a tornou item indispensável de um guardaroupa cool].

Autor: rbressane

Writer, journalist, editor

2 pensamentos

  1. Bom, realmente todo o movimento cyberpunk deriva-se de Neuromancer, mas Matrix, em especial deriva-se de Ghost In the Shell (1995) animação japonesa que inspirou (segundo os Wachowsky) a fazerem matrix. A algum tempo atrás saiu uma matéria na televisão onde os diretores de Ghost in the Shell e os de matrix sentavam lado a lado e mostravam as cenas que matrix havia pego de G.I.T.S (aqueles códigos verdes criptografados de matrix, aparecem no inicio de G.I.T.S), me recordo de quando lançou animatrix, ler que a ideia inicial era fazer um filme, mas devido a sua complexidade e por conter uma série de histórias sem alguma conexão aparente, a não ser o fato de se passar no “mundo matrix” resolveram fazer em animação aproveitando para homenagear G.I.T.S.

    se alguma informação estiver equivocada, sinta-se livre para me corrigir.

    abraços.

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