Obrigado por lembrar, Lobo Antunes [na Folha hoje]:
“Se escreve e publica pouco em países que têm clima bom. Você encontra mais poesia do que livros de prosa. Porque, para escrever um livro desses [Hei-de Amar uma Pedra], tem de estar trabalhando como um cão por dez anos. E a maior parte dessas pessoas não é de escritores profissionais. São jornalistas, médicos, engenheiros, empregados de escritório etc. Não têm tempo, não podem somente escrever quando chegam em casa. É um trabalho como outro qualquer, tem de trabalhar o tempo todo nisso, senão aquilo que se faz não é bom”
“Não sei se os amores são possíveis ou impossíveis. Uma história de amor é uma coisa muito complicada. Porque, se você não é capaz de reinventar o cotidiano, então o amor acaba. Porque, numa história de amor, nós exigimos sempre duas coisas: por um lado, o cotidiano, a rotina; por outro, a surpresa. E é muito difícil conseguir juntar as duas coisas. Não deixar que uma relação naufrague no dia-a-dia e se transforme em hábitos instalados. Você vai conhecendo tudo do outro e, com o tempo, corre o risco de vir a usura. E aquilo que você vê hoje em dia é que a maioria das pessoas, homens e mulheres, vivem monogamias suicidas. É evidente que teria adorado viver uma relação de 30 anos com alguém. Eu duvido que pessoas como o Vinicius [de Moraes], que se casou nove vezes, tenham sido felizes. Eu duvido, mas pode ser que sim…”
“Você só pode começar um livro quando está seguro de que não pode fazê-lo. Lembro que, quando comecei a escrever este livro, pensava: ‘Para descrever uma relação como esse casal tinha era necessária uma mão muito delicada’. E eu não achava que tivesse uma mão tão delicada assim para tratar dessa relação com todo o respeito. Porque as pessoas dos livros, mesmo que sejam só vozes, acabam por adquirir uma densidade tão carnal, tão humana que, quando se está a trabalhar neles, vive-se rodeado de fantasmas, que têm uma realidade mais real do que as pessoas autênticas. E você nem sequer pode mandar neles porque o livro é um organismo vivo e ele fura o plano…”
“É um trabalho como outro qualquer, tem de trabalhar o tempo todo nisso, senão aquilo que se faz não é bom”
Eu acho que está na hora dos comentaristas de blogue começarem a receber por seus bons serviços. Cadê o meu?!!
Eu lá tenho culpa de vc ler a Folha e o Guardian na mesma hora que eu?
abzz
RB